Alguns episódios isolados e despretensiosos tornam
algumas pessoas famosas num piscar d’olhos. Como regra, são acontecimentos
trágicos ou bizarros os mais suscetíveis a fabricarem estrelas momentaneamente.
Poucos conseguem manter a visibilidade ganha. O então desconhecido repórter Celso
Russomano filmou o mau atendimento à sua esposa num hospital particular, que
teria contribuído para levá-la a óbito. Grazi Massafera também se firmou como
atriz global depois de participar de um dos Big Brothers Brasil. A maioria apenas
aproveita os dias de fama e desaparecem, como aquela menina que estava no
Canadá.
Famosos, ou por resultado de um trabalho
duradouro ou por fatos inusitados, eles passam a ser referência para muitas
pessoas. São imitados nas roupas, nos anos oitentas as calças curtas de Michael
Jackson viraram mania nacional; nos cortes de cabelo, caso dos neymarnias; nos
gestos, e especialmente nos seus hábitos quando tornados públicos, mas acima de
tudo, nas manias. Nesse patamar das manias, as que mais pegam são aquelas que
passam a valorar ações negativas ou fúteis em detrimento de atitudes positivas.
Foi assim que o tricampeão mundial de
futebol, Gerson, ao fazer um comercial de uma marca de cigarro disseminou a
ideia de que levar vantagem desonesta seria sinônimo de inteligência, de genialidade.
Daí por diante todo mal educado passou a furar a fila de banco; os menos
espertos passam serviço a um amigo na fila. Vir pelas laterais e ultrapassar os
demais numa escada rolante, utilizar o elevador destinado aos preferenciais ou
fingir dormir para não ceder o lugar destinado aos preferenciais são condutas
corriqueiras. Ah, carros pelos corredores de ônibus tomarem a frente dos outros
é a cereja de bolo da incivilidade brasileira. Como essas vilanias são
consideradas virtuoses de gênios, também tomou conta do inconsciente coletivo
que ser famoso é sinônimo de ser dondoca. E isso se proliferou.
Todo dia na televisão passa um famoso que só
sabe fritar “bem” um ovo. Primeira tolice é definir como “bem”. Toda fritura,
cozimento, depende do gosto pessoal. Bem passado para uns seria o ovo mal frito
para outros. Informar que o inverso também é verdadeiro não será necessário,
pois até a maioria dos geniozinhos entenderá.
Pior, ainda, é a cena da simulação do ovo sendo
sapecado na frente das câmeras, quando todo mundo sabe ser tudo previamente
combinado. Um dos mais recentes inúteis a sapecar um ovo foi o cantor –
respeito tudo que se chame de gosto - Michel Teló no programa Fantástico, da
Rede Globo. Mas já vi vários outros a afirmar que sabem fazer um miojo, um
café, coisas banais assim, “gerseando” a impressão de que ser famoso também
significa ser incapaz para tarefas simples do dia a dia. Não existe erro em não
saber, pois são sempre pessoas atarefadas. O equívoco estaria em glamourizarem
suas babaquices. Todos fazem umas carinhas de dondocas finos, com um sorriso reafirmador
de que não são tarefas para famosos. Até a presidenta Dilma corroborou com essa
pieguice no programa da Ana Maria Braga. Ela fez uma omelete, ao menos falou corretamente
“uma” omelete, o que muitos queimadores de ovos devem ter ignorado.
Por conta dessa valoração do não saber, a
atriz Sônia Braga contou que num happy hour na casa de um ator americano famoso,
ela esperava ser servida quando, surpresa, percebeu que deveria se servir ou
não comeria nada. Estupefata ficou no final, quando descobriu que cada um teria
que lavar o prato ou copo que utilizara.
Como os famosos são realmente uma referência
de conduta, muitas mulheres simples, sem nenhum recurso para pagarem a uma
empregada, criam suas barbies sem saber fazer nada em casa, exatamente para serem
iguais aos chiques da televisão, do cinema, da arte em geral. “Essa menina não
sabe fazer nada em casa”, costumam dizer com ar fingindo de falsa modéstia. Forma-se,
assim, uma sociedade de ignóbios, ao invés de se formar uma sociedade de
pessoas capazes de executar pelo menos as tarefas corriqueiras, que muitas
vezes poderiam evitar dificuldades em determinadas circunstâncias. Isso não é
importante. Ser chique é ser famoso e dondoca; e quem não consegue a fama,
torna-se apenas um pobre-dondoca-chique.
Enviado por Pedro Cardoso da Costa – Interlagos/SP / Bacharel em direito
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